. A bebida que matou 75 pessoas e ainda é parte da cultura moçambicana


Dez anos após a maior tragédia de saúde pública associada a uma bebida local, a vila de Chitima, na província de Tete, ainda mantém viva a tradição do pombe, uma bebida fermentada feita com farinha de milho e água. Em 2015, durante um funeral, mais de 200 pessoas consumiram pombe contaminado, resultando em 75 mortes e diversas hospitalizações.


Luísa Domingos, professora da vila, relembra o cenário de desespero: "Acordei com gritos e choros dos vizinhos. Quando cheguei ao local, informaram-me que as pessoas estavam a morrer por causa do pombe. Parecia um massacre". A tragédia ficou conhecida como a "Tragédia de Chitima".


Segundo investigações posteriores, a farinha usada estava contaminada com a bactéria Burkholderia gladioli, capaz de gerar toxinas mortais. Apesar da comoção nacional, com três dias de luto decretados pelo governo, a prática de fabricar e consumir pombe persiste até hoje.


Para muitos habitantes locais, a bebida tem um valor cultural profundo. Jecksen, jovem de 22 anos, diz que a tradição permanece viva: "É algo nosso. Tomamos porque gostamos". A simplicidade da produção, aliada ao custo acessível — cerca de 5 meticais por copo — torna o pombe ainda mais atrativo em comunidades de baixos rendimentos.


Mesmo cientes dos riscos, moradores como Raul António mantêm o hábito. “É a nossa bebida, matando ou não”, afirma, demonstrando como o significado cultural da bebida ultrapassa os receios sanitários.

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